uma mão segurando um lápis com a palavra "Dicendi" ao fundo.

Verbos Dicendi: O que São e Sua Importância para Escritores

Ainda que você não conheça os verbos dicendi, eles são, com toda certeza, uma das ferramentas essenciais no arsenal de qualquer escritor. Neste artigo, vamos entender o que são os verbos dicendi, para que servem e por que eles são tão importantes na narrativa escrita.

Ainda que você não conheça os verbos dicendi, eles são, com toda certeza, uma das ferramentas essenciais no arsenal de qualquer escritor. Estes verbos, que muitas vezes passam despercebidos no decorrer da leitura, têm uma função clara e fundamental na construção de diálogos e na forma como os personagens se comunicam. Neste artigo, vamos entender o que são os verbos dicendi, para que servem e por que eles são tão importantes na narrativa escrita.

O Que São os Verbos Dicendi?

Os verbos dicendi, também conhecidos como verbos de elocução e amplamente utilizados no jornalismo, são aqueles que indicam uma ação relacionada ao ato de falar, como “dizer”, “falar”, “afirmar”, “gritar”, “sussurrar”, entre outros. Eles são usados principalmente para introduzir ou acompanhar falas em textos literários, indicando a maneira como algo foi dito ou a atitude do personagem que está falando.

Veja a diferença no impacto dessas frases:

  • “Eu não acredito nisso”, disse Maria.
  • “Eu não acredito nisso”, gritou Maria.
  • “Eu não acredito nisso”, sussurrou Maria.

Em cada um dos exemplos, a fala é a mesma, mas o verbo dicendi altera a interpretação do leitor sobre a emoção ou a intensidade com que a fala foi pronunciada.

Para que servem os Verbos Dicendi?

Os verbos dicendi têm a função de dar vida aos diálogos em um texto. Eles ajudam a esclarecer o tom, a emoção e a intenção por trás das falas dos personagens. Sem eles, os diálogos poderiam parecer planos ou confusos, já que os leitores não teriam a direção necessária para entender como as palavras foram ditas.

Para entender melhor isso de forma prática, veja os verbos dicendi em ação no texto Hiroshima, de John Hersey, que é reconhecido como a reportagem mais relevante do século XX:

Pouco antes do anoitecer o sr. Tanimoto encontrou sua vizinha, a sra. Kamai, uma jovem de vinte anos, acocorada no chão, com o corpo da filha nos braços. Evidentemente o bebê estava morto havia já muitas horas. A sra. Kamai se levantou de um salto quando ao ver o reverendo e pediu: “O senhor poderia tentar localizar o meu marido, por favor?”

[…] A julgar pelos muitos militares mutilados que vira durante o dia, o pastor deduziu que o quartel fora seriamente danificado pela coisa que atingira Hiroshima. Sabia que não havia possibilidade de encontrar o marido da jovem, ainda que o procurasse, mas quis animá-la.

“Vou tentar”, respondeu.

“O senhor precisa achá-lo”, ela insistiu. “Ele amava tanto nossa filha! Quero que a veja mais uma vez.”

Aqui, pode-se perceber que os verbos dicendi ajudam a definir a personalidade dos personagens e a conduzir o ritmo da história de forma orgânica. A escolha de um verbo como “insistir”, “sussurrar” ou “gritar”, por exemplo, pode revelar aspectos importantes sobre um personagem, como seu temperamento, estado emocional ou a situação em que se encontra.

No caso de Hiroshima, a insistência da sra. Kamai em encontrar o marido desaparecido é revelada não só por sua réplica, mas, principalmente, pela escolha do autor para o verbo que costura suas aspas ao texto.

A Importância dos Verbos Dicendi para Escritores

Para escritores, os verbos dicendi são ferramentas poderosas para enriquecer o texto e envolver os leitores. Utilizados de forma adequada, eles contribuem para criar diálogos mais realistas e dinâmicos, aumentando a profundidade dos personagens e a imersão na narrativa.

Uma das grandes virtudes dos verbos dicendi é a capacidade de evitar a repetição do verbo “dizer”, aumentando o repertório linguístico do autor. Quando um escritor varia os verbos usados para introduzir as falas dos personagens, ele torna o texto mais interessante e evita a monotonia. Porém, é importante que essa variação seja natural e adequada ao contexto da fala.

Por exemplo:

  • Em uma cena de ação, verbos como gritar ou berrar podem ser mais apropriados para transmitir urgência ou desespero.
  • Já em uma cena mais íntima, como uma conversa entre dois amigos, verbos como sussurrar ou confessar podem ser mais adequados para demonstrar proximidade e vulnerabilidade.

Além do mais, o uso correto de verbos dicendi ajuda ainda a guiar a interpretação do leitor. Um bom escritor não apenas narra os acontecimentos, mas também manipula o modo como o leitor os percebe, influenciando a compreensão e a emoção associada a cada fala ou diálogo.

Como Usar os Verbos Dicendi com Eficiência?

Para usar os verbos dicendi de maneira eficaz, os escritores devem considerar alguns pontos importantes:

  1. Seja coerente com a cena e o personagem: Nem sempre é necessário usar um verbo “forte”. Em certas situações, o simples “disse” pode ser mais eficiente do que verbos exagerados como “rugiu” ou “berrou”. A ideia é que o verbo complemente à fala e não a sobrecarregue.
  2. Não exagere na variação: Embora seja importante evitar a repetição, usar verbos muito variados ou incomuns pode distrair o leitor. Escolha verbos que se encaixem naturalmente no diálogo e que reflitam as emoções ou intenções dos personagens.
  3. Use os verbos dicendi para mostrar, e não contar: Em vez de contar diretamente ao leitor como um personagem está se sentindo, use os verbos dicendi para mostrar isso de forma sutil. Um personagem que “sussurra” uma frase em vez de simplesmente “dizer” revela algo sobre seu estado de espírito sem que o escritor precise explicar.

Conclusão

Os verbos dicendi são muito mais do que meras palavras para costurar aspas ou travessões em diálogos. Eles são peças fundamentais na construção de narrativas envolventes e emocionantes. Para escritores, dominar o uso desses verbos é um passo importante para criar personagens realistas e diálogos impactantes. Quando usados com inteligência e cuidado, os verbos dicendi podem transformar uma história comum em uma narrativa que prende o leitor do início ao fim. Bora usá-los?

Luiz dos Anjos
Luiz dos Anjos

Jornalista, redator publicitário e professor de idiomas. Apaixonado por livros e filosofia. Trabalha com a comunicação em suas múltiplas facetas.

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